domingo, 16 de maio de 2010

Uma viagem marítima

O Rodrigo Carneiro também interpretou o quadro de Henri Bacon.

Uma mulher muito pobre, que vivia em Sidney, decidiu ir para a América para arranjar emprego.
Um dia, já muito atrasada, dirigiu-se apressadamente ao porto para embarcar. Quando lá chegou, viu dois barcos atracados. Um deles, destinado aos pobres, dirigia-se a Veneza; o outro, para os ricos, ia para a América.
Sem hesitar, entrou no barco destinado aos ricos, sem ninguém reparar e sem pagar bilhete. Foi para uma cabine, que não pagou e da qual nunca largava as chaves.
A roupa da mulher confundia-se com a roupa dos ricos. Tinha medo de ser apanhada e da viagem que ia fazer, mas, ao mesmo tempo, estava ansiosa por conhecer a América.
A viagem era longa. O navio tinha de atravessar o Oceano Antárctico e o Oceano Atlântico. Os outros passageiros começaram a desconfiar daquela senhora, porque ela era muito calada e não conversava com ninguém. Comunicaram isso aos seguranças, que passaram a estar sempre de olho nela.
Um dia, o barco chegou à América e ela imediatamente desembarcou, sem ser apanhada.
A partir daí, a sua vida mudou: conheceu novos amigos e arranjou emprego.

Desabrochar da flor interior

Aqui fica o texto do Bernardo Pires sobre o quadro de Henri Bacon.



“First sight of land” representa, para mim, uma mulher chamada Florbela, que desde cedo vive sozinha. Não tendo nada que estime nem ninguém que esteja no seu coração, decide viajar para a Índia.
Florbela não se sentia propriamente bem com esta viagem, pois viajar de Espanha para a Índia era uma mudança radical do seu estilo de vida.
Ela era uma mulher forte e sempre corajosa, pois sabia que todos temos uma força interior e a dela, neste caso, seriam as flores, especialmente o alecrim. Esta flor representa a coragem, que vive no coração de Florbela.
Florbela não sabia o que era amar, pois nunca amou ninguém nem ninguém a amou. Mesmo assim ela estava disposta a procurar o significado da sua vida, entrando no barco que ia de Espanha à Índia. Ela confiava que lá encontraria quem ou o que mudaria a sua vida para sempre.
Naquele barco em que depositou as suas esperanças, algo estava a acontecer, só ela o sabia, embora não tenha sucedido nada durante a viagem.
Chegada à Índia, ninguém a recebeu, todos a trataram como uma estranha. Então ela percebeu o que sentira no barco… Olhando para o canto da rua, um alecrim! A felicidade não depende do lugar onde se está, mas sim do que somos e do que fazemos.
De regresso a Espanha, no mesmo barco, com as mesmas coisas, mas com a consciência mudada, voltou para casa, o lugar onde, verdadeiramente, pertencia.
Pela primeira vez em 15 anos abriu o correio, e vendo uma carta da sua família, percebeu que não podemos esperar por quem nos ame, temos que também amar.
Florbela finalmente percebeu o que era a vida. A vida é dar o que temos, sem esperar algo em troca.

sábado, 17 de abril de 2010

Carla

O Luís explica quem é a figura feminina pintada por Henri Bacon.

Lá ia ela no barco. O seu nome era Carla e tinha saído de França, porque o seu negócio de roupa não estava a dar resultado e decidira experimentar montá-lo em Itália.

A meio da viagem de barco uma tempestade atingira o barco e Carla ficara desorientada, porque não sabia da sua roupa. Decidiu ir procurá-la e, quando chegou à sala de bagagens, encontrou-a toda rasgada. Apesar disso, teve de continuar viagem. Passadas cinco horas, estava desembarcar.

Carla foi de imediato procurar emprego e encontrou uma vaga como estilista. Depois de concorrer e ser seleccionada, trabalhou muito nas suas peças. Conseguiu realizar o seu sonho: toda a gente comprava e usava a sua roupa.

Mais tarde, ela foi passar uma semana ao seu país natal, onde foi muito bem recebida. Os seus amigos perguntaram-lhe como tinha conseguido tanta fama e ela explicou que tinha inventado novas roupas que lhes mostrou, cujo design os deixou impressionados.

A sua roupa era vendida em todo o mundo. Carla passou a aparecer em revistas e em entrevistas e ficou mundialmente conhecida pelo nome de “Super-estilista”.


Em Busca de Algo

A Maria Francisca também encontrou uma explicação para o quadro:

Simbad viajava naquele barco desde que tinha memória. Tinha vivido imensas aventuras e desventuras no velho barco do seu bisavô, tantas que nem se lembrava de todas.

Nesse dia, Simbad ficara encarregue de verificar os bilhetes dos passageiros do Barba Marinha, até que uma das viajantes lhe despertou a curiosidade. Já observara várias mulheres a bordo, mas nenhuma se parecia com esta.

- Talvez tenha vindo de outro país – pensou Simbad.

Mesmo com este pensamento na cabeça, não se conformava em ficar de braços cruzados. Os dias passaram calmos, Simbad estava desanimado. A estranha mulher, cujo nome ninguém sabia, trancava-se no seu quarto sem nunca sair.

Certa noite, reparando que a curiosa mulher se esquecera de fechar a porta, o marinheiro resolveu entrar. Em cima da escrivaninha encontrou um pequeno diário. Mal começara a ler as primeiras páginas, quando, repentinamente, a mulher chegou.

- Que fazes aqui a mexer nas minhas coisas? – perguntou ela muito zangada.

Simbad não sabia o que lhe havia de dizer e respondeu-lhe a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

- Eu sou o criado de quartos, Excelentíssima Senhora.

- Podes parar de fingir Simbad. Por muito que não queira, atraio sempre misté…

- Como sabes o meu nome? De onde vieste?

- Calma, calma… Para responder a todas as perguntas que me fazes tens de ter calma. O meu nome é Marianne, sou francesa, uma famosa arqueóloga marinha. Venho em busca de tesouros escondidos no mar. Quando as ondas se elevam e o mar fica mais alto que a terra, este devora navios, animais, pessoas… Eu tento descobrir os restos, o que sobrou de cada tragédia.

- É um trabalho curioso, e interessante, não é?

- Posso dizer que sim, mas confesso que por vezes é também muito chocante. As histórias dos que outrora perderam a vida nas águas em que nado são arrepiantes…

- E vens procurar algum tesouro em especial nas águas de Timor?

- Vais surpreender-te com o que a seguir te vou contar: venho em busca dos destroços do Titanic. Segundo estudos já realizados tudo aponta para que aqui se encontrem. Eu ainda mal acredito que fui uma das pessoas escolhidas para fazer este trabalho!

Simbad e Marianne passaram a noite a conversar sobre os mistérios escondidos pelo mar, guardados num cofre que poucos conseguiam abrir. Simbad foi convidado a participar na incrível expedição. Estava ansioso, mas, ao mesmo tempo, inquieto. Era a primeira vez que mergulhava tão profundamente e com objectivos tão nobres.

Debaixo de água viu os magníficos corais com milhões de peixes coloridos, cardumes gigantescos e muitos outros belíssimos espectáculos. Finalmente chegaram ao lugar…

- Simbad, é aqui!

No cimo da areia uma bandeira já consumida pelo tempo abanava-se, refrescando os peixes em seu redor. A expressão pálida na cara de Marianne desaparecera; em seu lugar surgira um sorriso de ponta a ponta.

Não havia dúvidas: tinham encontrado o Titanic; depois de descarregarem todas as relíquias com imenso cuidado, voltaram para o barco.

Simbad, Marianne e os outros marinheiros que participaram na famosa expedição foram recompensados…

Seguiram-se vários dias, mas Simbad não deixava de pensar nas riquezas que deixavam para trás. Decidiu mergulhar até ao sítio onde encontrara o velho barco. Ao ver que este não estava lá, riu-se dizendo para com os seus botões:

- A Marianne tem razão. Realmente o mar esconde muitos mistérios!

Em 1877

Henrique Ferrer escreveu:

Em 1877, D. Rodrigo Ferreris Governador de Macau, tinha uma jovem e elegante filha, alta, de nariz afilado e cabelos negros como o carvão. Vera Ferreris cresceu no Oriente e falava Mandarim perfeito. Quando fez 18 anos, o seu pai achou que era altura de Vera retornar a Portugal.

Vera embarcou a 9 de Janeiro de 1877 na escuna inglesa «Chica» que partiu de Hong Kong rumo a Inglaterra, com escala em Singapura, Bombaim, Cidade do Cabo, Dacar e Lisboa. Vera partiu feliz, ansiosa por reencontrar as suas amigas de infância e a família com quem ia viver nos próximos tempos.

O quadro retrata o momento, às 11h55 do dia 15 de Abril de 1877, precisamente há 133 anos, em que os passageiros avistam pela primeira vez a terra portuguesa. Vera levanta-se precipitadamente, com muita expectativa e também com grande satisfação por chegar finalmente a terra firme, a Portugal, a sua terra, após muitos anos de ausência e mais de três longos meses no mar.

Em terra esperam-na dois funcionários do Reino com uma caleche, a sua tia Josefina do Canto Ramira, com quem Vera vai viver, e as suas primas Rosa e Amélia, da sua idade. Apesar das saudades dos pais, Vera está feliz com a sua nova vida.

O Tesouro

A Beatriz escreveu uma história sobre o quadro de Henri Bacon:

Era uma vez uma menina chamada Lara, que tinha o sonho de ir a uma ilha muito bonita. Como esta ficava muito longe, demorava vários dias a lá chegar de barco e Lara não tinha dinheiro para a viagem.

Quando cresceu e fez 25 anos, Lara decidiu concretizar o seu sonho, mas não sabia como. Então, pediu a um amigo que a levasse para a ilha que ela tanto queria conhecer. Ele aceitou e, durante alguns dias, viajaram. Ela achou tudo muito mais bonito do que esperava. O amigo teve de voltar para o seu país e ela ficou a explorar a ilha. Começou por dar uma volta, depois foi ao mar e apanhou algumas pedras e conchas.

No segundo dia de explorações, foi a uma floresta apanhar frutos e viu umas pessoas muito esquisitas. Eram um homem e uma mulher, Mariana e António, que falavam de um tesouro escondido no fundo do mar. Eles queriam encontrar o tesouro e ficar com o dinheiro ou o ouro só para eles.

Mariana e António entraram para um barco, levando um mapa para encontrarem o tesouro. Para os impedir, Lara embarcou às escondidas e foi para trás do mastro, onde estavam uma cadeira, almofadas, livros e mais algumas coisas dos donos do barco.

Mariana e António eram muito ricos e só pensavam em conseguir mais dinheiro. Quando chegaram ao sítio onde devia estar o tesouro, António mergulhou e levou para o barco um grande cofre. Ele e a sua mulher abriram-no e nem queriam acreditar no que viam: pensavam que estava lá dentro ouro, mas em vez disso havia pedras pequeninas do mar. Voltaram para trás muito tristes e deixaram o tesouro no mar, porque pensavam que não era nada de especial.

No dia seguinte, Lara foi a nadar até ao local onde estava o tesouro e levou-o para sua casa. Quando o abriu, viu que no cofre também havia pedras preciosas e diamantes.

Lara gostava muito daquela ilha onde se divertia a valer. Por isso, decidiu ficar lá a viver para sempre e, quando queria, ia visitar o seu país!


Um Sonho Reencontrado

A Carolina Dinis explica:

A mulher do quadro de Bacon chama-se Lia Zaré. Encontra-se num barco que odeia, pois foi nele que teve de ir para a Holanda.

Lia partiu da sua terra Natal, a Índia, e deixou para trás a sua única paixão, Rór Dig, para ir casar com um holandês. A sua mãe não gostava que ela tivesse orgulho em dizer que era indiana. Como nunca gostara da vida que tinha, não a queria para a filha. Por esse motivo, obrigou-a a partir.

Quando Lia chegou à Holanda, estranhou, pois estava habituada a um sol radioso e a que as pessoas tivessem cabelos pretos e uma tez morena. Na Holanda era completamente ao contrário e, por esse motivo, sentia que aquele não era o seu mundo e receava perder o seu grande amor, Rór.

Com o passar dos dias, Lia ia ficando cada vez mais triste, mais longe de si mesma e imaginava-se a falar com o seu amor. Contudo, à sua frente estava a dura realidade, o seu noivo holandês.
Pensava em fugir para a Índia, mas ia acabar por morrer à fome, pois não tinha dinheiro para se sustentar. Vivia na ilusão de que, mesmo sem comida, mas com o amor de Ror, teria forças para trabalhar e ganhar dinheiro. Mas não era verdade. Passaram dezasseis anos e Lia conseguiu reunir todas as forças que lhe restavam e fugir para a Índia.

Sentia-se nervosa e receosa, pensando que o seu amor se podia ter apaixonado por outra mulher mais bela que ela, mas tentava afastar estes pensamentos.
Durante a viagem, de repente, apareceu um barco holandês: era o seu noivo holandês a tentar raptá-la e levá-la de volta para o seu país. Foi uma luta feroz: ouviam-se canhões e os trovões da tempestade que se agravava eram cada vez mais ensurdecedores.

Lia sentia que, se continuasse no barco, ia acabar por morrer. Então, como já estava perto de terra, foi ela a próprio nado até à Índia, onde chegou sã e salva. Sentado num banco voltado para o mar, estava um rapaz a murmurar “ela vai voltar”. Mal viu Lia, abraçou-a como nunca antes. Era Rór, o seu amado.