segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Encontro com a minha personagem preferida: Carolina Beatriz Ângelo

A Anaísa Simões do 6.º C escreveu o primeiro texto sobre um encontro imaginário com a sua personagem - neste caso, personalidade - preferida.


Apesar de ser incrível, isto é, de vocês poderem não acreditar, numa tarde entediante, aconteceu algo fenomenal.

Estava eu a estudar História, quando uma das páginas do meu livro me chamou a atenção. Uma daquelas campainhas, que eu gosto de dizer que estão sempre alerta, tocou. Dizia: “Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher…”. Antes de eu ter tempo de terminar a frase, do meu estragado, gasto e velho livro saltou uma mulher.

- Podes ajudar-me, por favor? – disse a estranha e desconhecida mulher.

Fiquei estupefacta a olhar para ela, não prestando qualquer atenção ao que dissera. Um bando de perguntas assaltou os meus pensamentos, tentando arrancar-lhe uma resposta a todo o custo: “Quem era aquela mulher? O que estaria ali a fazer? E a mais importante de todas: Por que razão tinha saltado do meu livro de História e o que queria de mim?”.

Agarrando os pensamentos que tinham fugido, ajudei-a a tirar a metade do corpo que permanecera dentro do livro que eu agora olhava com muita atenção como este fosse mágico ou outra coisa que me escapava.

-Quem és tu? – perguntei-lhe – Como é que saíste daí?
- Eu sou a Carolina Beatriz Ângelo, a protagonista da notícia que acabaste de ler. Sou, desculpa, ainda não me habituei à ideia, ERA médica e, durante a minha idade adulta, lutei para que as mulheres tivessem igualdade de direitos.

- Igualdade de direitos? – disse sussurrando, mas não suficientemente baixo para que ela não me ouvisse.
- Sim, igualdade de direitos. Direito a votar, a frequentar o ensino, a escrever sem ter de usar um pseudónimo masculino… Mas de todos estes e muitos mais, aquele pelo qual eu sempre lutei em nome de todas as mulheres portuguesas, foi o direito ao Voto – disse ela olhando para mim.

- Deve ter havido muitas mulheres a lutar pelos mesmos direitos que tu, mas no meu livro o teu nome é o único que consta sobre este assunto.
- Tens razão, ouve. Talvez o meu nome seja o único de que fala o teu livro, porque eu fui a primeira mulher a votar – respondeu ela esclarecendo a minha dúvida.

Nesse momento fiquei abismada! Como é que Carolina podia falar com tal calma, quando tinha sido a primeira mulher a votar em Portugal?! Voltando ao meu estado normal perguntei:
- Deve ter sido muito difícil!
- Não muito – respondeu – Numa altura em que o direito de voto era reconhecido apenas a “cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família” eu era viúva e por isso era chefe de família. Consegui que um tribunal me reconhecesse o direito a votar. Baseei-me no sentido do plural da expressão “cidadãos portugueses” cujo masculino se refere, ao mesmo tempo, a homens e mulheres.
-Uau!

Não consegui dizer mais nada.
Nesse momento, para minha infelicidade, Carolina desapareceu. Ainda folheei o livro umas quantas vezes, mas não parecia resultar. Tinha tantas outras perguntas para lhe fazer!

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